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Batlefield Heroes, PC

Battlefield Heroes
Jogos de tiro online não são novidade para mais ninguém hoje em dia, dada a notoriedade de títulos como The Duel, S4League, Landmass e Combat Arms. Basta baixar e jogar, sem ter preocupação com o preço ou questões de compatibilidade, e se divertir. Se não gostar, tudo bem, basta apagar o jogo e seguir com a vida. 

O que realmente chama a atenção no ramo, desta vez, é uma das raras ocasiões em que este tipo de produção sai de uma empresa do porte da Electronic Arts, ela mesma sem nenhum histórico de produção de conteúdo grátis. Para completar o escândalo, a franquia usada na iniciativa foi nada menos que Battlefield, considerada uma das maiores no gênero de tiro multijogador.

A EA jogou ainda um elemento polêmico final no coquetel de surpresas e transformou o mundo sério, cinza e colossal de Battlefield em desenho animado, com personagens cartunescos e visual colorido. A discussão sobre os méritos de torcer as origens da franquia segue queimando, mas o Fliperamaresolveu sentar para descobrir uma coisa mais elementar: mesmo sendo de graça, Battlefield Heroes vale o nosso tempo? Será que a DICE acertou na mão? 

Mortandade em porções individuais

A primeira idéia diferente apresentada é que, em vez das interfaces lindas, pesadas e excessivamente trabalhadas dos Battlefields que conhecemos, a DICE optou por fazer um programa leve. Depois de criar uma conta nos servidores da EA e fazer o download no site oficial, realizado por um sistema que faz todo o trabalho de instalação, o jogador é apresentado a uma janela as opções do jogo. Se quiser, pode clicar “Play Now!”, ignorar todo o resto e simplesmente curti-lo, já que um servidor é automaticamente escolhido.

Cada partida dura de 10 a 15 minutos, tempo relativamente inferior ao normal de Battlefield, e a entrada e saída pode ser feita a qualquer momento, sem qualquer preocupação. O foco nos jogadores casuais vai ainda além, fazendo com que o jogo escolha por si só até mesmo os spawn points para cada ocasião. Nunca há falta de oponentes para atirar, dados os tamanhos pequenos dos quatro mapas do jogo, e todas as armas têm munição infinita, o que dá um aspecto de brincadeira a todo o tiroteio.

O excesso de veículos disponíveis em algumas fases oferece opções que, se não conferem o ar mais estratégico ao jogo, com certeza tira nota máxima quando o assunto é agradar. Como você lerá a seguir, este é o caso na maior parte do tempo.

Guerra de travesseiros

Quem quer que tenha dito que “a guerra nunca muda” certamente nunca cruzou com Battlefield Heroes. O mundo criado pela DICE para esta versão da série é a coisa mais colorida que é possível encontrar em um jogo de tiro hoje, incluindo até mesmo o cômico Team Fortress 2. Além das paletas exageradas para todo e qualquer elemento do jogo – um verde muito verde, um azul muito azul –, os produtores fizeram questão de deixar as casas das vilas tombadas para o lado, criaram um tanque de guerra que parece brinquedo de parque e construíram cenários típicos de desenho animado, com navios abandonados e vilas pequenas. Os efeitos sonoros são os mais infantis possíveis, com sons que quem gosta de “Tom & Jerry” – trombetas, buzinas, assovios – deve conhecer de cor. A única coisa frustrante neste aspecto é a trilha sonora, que conta com uma única música (de três minutos). 

A jogabilidade é um choque completo para quem é fã de Battlefield. Ao contrário de qualquer jogo de tiro anterior na franquia, Battlefield Heroes tenta trazer um tipo de experiência de jogo nova à modalidade de tiro em terceira pessoa. Não existem “headshots”. Não existe morte súbita. As granadas fazem os personagens voarem, mas eles perdem pouquíssimo de vida. Até mesmo o tanque de guerra, que deveria ser a máquina invencível do jogo, precisa acertar três cargas certeiras para matar um único inimigo. 

A reinvenção de regras chega a tornar o jogo raso muitas vezes. Os personagens têm uma quantidade ridícula de vida e, por isso, podem ser atingidos por múltiplas granadas, metralhadoras e espingardas ininterruptamente e ainda assim se dar bem em um duelo. As armas mais mortais do jogo, ironicamente, são as facas, que são mais perigosas em um corte no braço do que uma carga de tanque no peito. Armadilhas explosivas, emboscadas e granadas nunca são suficientes para derrotar nem um único soldado, nem mesmo quando explodem embaixo da sola do sapato. O jogo acaba se tornando um exercício de correr-em-direção-ao-inimigo-e-atirar-até-que-um-dos-dois-caia, já que qualquer tentativa de jogo inteligente acaba sempre sendo desmantelada pela facilidade excessiva. 

Quando Battlefield encontra Warcraft

Uma das grandes motivações de Battlefield Heroes é que, muito mais do que outros títulos da série, a customização do personagem vai muito além da escolha das armas. Antes de começar, é preciso escolher facção (americana/alemã), classe (espião/combatente/fogo pesado) e traços físicos particulares. Para quem estiver disposto a pagar dinheiro real na loja do jogo, é possível trocar a roupa dos personagens para as mais diversas e inventivas combinações possíveis, de pedreiro a astronauta. Dá até para andar de cueca por aí.

Gestos, expressões e bônus de desempenho e experiência precisam ser comprados com dinheiro de verdade, mas há uma preocupação real em não permitir que esses extras atrapalhem a diversão. Apesar de caros, os itens compráveis podem ser simplesmente ignorados pelo jogador que não tiver dinheiro sobrando. 

O que realmente influencia o jogo – as armas escolhidas e habilidades especiais – são adquiridas pelo uso dos Valor Points e Hero Points, ambos conquistados pela pontuação feita nas partidas. O jogo é generoso nas doações de pontos, fazendo com que qualquer ação seja recompensada. Mesmo para iniciantes que não conseguem ainda eliminar os oponentes, há recompensas para cada tiro acertado com experiência e VP. Ao atingir um determinado ponto, o personagem sobe de nível e pode escolher entre uma nova habilidade ou o reforço de uma antiga.

As habilidades fazem com que o jogo de tiro acabe se confundindo com um RPG de vez em quando. Apesar de não criar personagens invencíveis, os níveis podem tornar um jogador muito mais perigoso. Pessoas ficam invisíveis, comem bombas, recuperam a vida de todos no raio de oito metros, atiram balas incendiárias. Para os habilidosos, esses truques adicionam uma camada totalmente nova de profundidade aos enfrentamentos, que às vezes lembram mais um duelo de magos que de soldados.

Cada personagem tem uma facção, um nível e uma classe fixa, exatamente como seria esperado em um jogo de RPG. A decisão, provavelmente tomada em uma tentativa de agregar mais personalidade a cada indivíduo acaba empobrecendo a jogabilidade. Ao fixar função e lado para todos os jogadores, a DICE ignorou o fato de que a necessidade de cada classe varia de acordo com o momento. Um time com espiões demais, por exemplo, terá muita dificuldade em conquistar as bandeiras, considerando que não tem uma linha de frente forte, e será impossível rearranjar o time enquanto os mesmos jogadores permanecerem no mesmo jogo. Uma partida em que um lado seja muito melhor que outro nunca poderá passar por um reajuste de times, já que cada ninguém pode mudar de lado. 

Para atenuar a situação, o nível do personagem influencia na busca de servidores para cada jogador, procurando sempre equilibrar as habilidades dos dois lados. Isso nem sempre funciona, mas é um alívio. Sobre a questão das classes, o único meio de resolvê-la é criar mais personagens. Apesar de virem no nível 1, pelo menos eles compartilharão o dinheiro entre si.

Penas de ganso, cor e magia

Battlefield Heroes é um salto para fora da forma. Fica claro desde os primeiros instantes que a DICE e EA não tiveram medo de apostar em novas estratégias com o título, procurando sair da fórmula realista, por um lado, e do esquema de vendas tradicional, por outro. Foram decisões ousadas que certamente não agradarão a todos, mas assim funciona com as mudanças.

Com mais de um milhão de contas registradas em menos de um mês – e sem lentidão nos servidores –, há pouca dúvida que o lançamento seja um sucesso de público e execução, mas certamente este não é um prato para os que foram endurecidos pelo realismo intolerante dos outros Battlefields. Se existe uma coisa certa é que, para os que não conseguirem entender a proposta de Battlefield Heroes, ele será um jogo decepcionante.

Ainda assim, será interessante ver qual o retorno comercial da EA neste novo formato, que a experiência coreana vem provando dar certo. Novos mapas, novas armas e novos acessórios são uma previsão quase certa do que está por vir. Enquanto isso não chega, por que você não dá uma olhada? É grátis, afinal.

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