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Call of Juarez: Bound in Blood

Call of Juarez: Bound in Blood 
O primeiro Call of Juarez foi um interessante, porém um falho esforço em trazer o clima do faroeste para os videogames. Contando com um anti-herói interessante e uma trama competente, diversos bugs, escolhas de gameplay dúbias e design de fases mediano impossibilitaram o game de chegar ao patamar de games como Outlaws ou Red Dead Revolver. Mas a Techland, em parceria com a Ubisoft, decidiu dar mais uma chance para Call of Juarez com o game Bound in Blood. Se a experiência do passado ensinou algo é que a franquia tem uma boa dose de potencial não explorado. E, depois de mergulhar neste segundo game, não dá pra deixar de pensar exatamente a mesma coisa: talvez não tenha sido desta vez, caubói.

Bangue bangue pixelizado

Em Bound in Blood, o jogador volta a controlar o protagonista Ray que, em vez de dividir a tela com o índio Billy, tem como companheiros seus dois irmãos, Thomas (também controlável) e o jovem padre William. A trama começa alguns anos antes do primeiro jogo, em meio à guerra civil norte-americana, que estoura enquanto Ray e Thomas estão a serviço do exército dos confederados. Preocupados com o perigo que a casa de sua família corre com o avanço dos Yankees, os dois irmão decidem fugir do comando. Ao retornarem ao lar, Ray e Thomas encontram apenas destruição e William em frangalhos. A história é boa no geral, embora peque em partes e soe um bocado inconsistente em alguns momentos: os irmãos parecem não encontrar outra saída para reconstruir sua casa a não ser ir atrás da misteriosa lenda de um tesouro escondido na fronteira com o México, em Juarez. Peraí, não há bancos para serem assaltados e Saloons a serem pilhados pelo Velho-Oeste inteiro? Outro ponto estranho é a cega predisposição de um ex-general da dupla, que quer arrancar o couro dos dois a qualquer preço, por nenhuma outra razão clara senão o fato dos dois terem desertado do exército. E por razões igualmente não-exploradas, o exército confederado também parte atrás do ouro de Juarez. É o tipo de história que começa a te incomodar com seus rombos se você prestar muita atenção. Mas há um bocado de traições, intrigas e bangue-bangue para satisfazer aqueles que estão atrás de uma experiência de faroeste.

Bound in Blood é um típico tiro em primeira pessoa, e dos mais típicos que você pode encontrar por aí. O jogador caminha por amplos cenários tridimensionais, estourando tudo o que aparecer pela frente. As armas não escapam das tradicionais pistolas, carabinas de longa distância e espingardas, sem contar com qualquer opção de fogo alternativo. Uma das principais diferenças é que o jogador pode escolher entre jogar com Ray ou com Thomas na maioria das fases. Cada um tem suas especialidades: Ray é o durão da dupla, capaz de explodir portas ou inimigos com bananas de dinamite, carregar duas pistolas ao mesmo tempo e desmontar metralhadoras fixas e sair andando por aí com elas. Thomas, por sua vez, é o personagem ágil, podendo escalar algumas estruturas, usar um laço para vencer alguns precipícios, uma faca para matar silenciosamente e um arco-e-flecha que, por algum capricho do destino, possibilita que Thomas diminua o ritmo da passagem do tempo. Na prática, infelizmente, esse sistema pouco faz a favor da criatividade do título. Andar com Ray ou Thomas acaba fazendo pouca diferença, uma vez que suas habilidades exclusivas são apenas aproveitadas durante alguns dos escassos puzzles que permeiam o game. Você não pode, por exemplo, usar o laço pra prender algum bandido, ou conseguir alguma vantagem criativa subindo em alguma construção próxima. Tudo, neste sentido, é um pouco restrito demais e a diferença entre personagens vem mesmo de seu set de armas.

O jogo ainda tenta mexer um pouco na fórmula com alguns criativos momentos. Algumas vezes, Ray e Thomas se juntam para chutar portas e entrar em uma sala estourando tudo: nestes momentos, o tempo diminui consideravelmente e duas miras descrevem um semi-arco na tela (imitando o movimento das pistolas sendo engatilhadas). O jogador pode controlar a câmera de modo que consiga derrubar mais inimigos. Em outros pontos do jogo, o cenário se abre para uma grande porção de terra e o jogador pode ganhar dinheiro fazendo uma meia dúzia de missões opcionais. Essas são as partes mais legais do jogo: pode-se cavalgar por aí sem preocupações e impedir roubos e assassinatos que rolam vez ou outra enquanto se explora a fase, além de, claro, cumprir as missões. O dinheiro ganho no decorrer do jogo pode ser usado para comprar novos modelos de armas, que variam em velocidade, força e coice. Cada tipo de arma também tem uma diversidade de classes: Rusty, normal, Prime e Superb, em ordem de melhor performance. Há um leque até bem amplo de possibilidades e é, sem dúvida, atraente voltar ao jogo para provar armas que foram deixadas pra trás. Mas, no fim das contas, não importa o que você tenha no coldre - isso não vai te salvar da pior e mais frustrante parte do jogo: os duelos.

Para quem os sinos tocam

Alguns personagens pelo decorrer do game chamarão o protagonista para resolver as diferenças num duelo mano-a-mano. É a típica coisa de filmes Western: você de um lado e o adversário do outro, as mãos firmes no coldre até que um sino toque. Aí, meu caro, a vitória é de quem saca mais rápido. Em Bound in Blood funciona assim: a alavanca (ou o mouse no PC) controla a mão que vai disparar e o jogador pode caminhar para a esquerda ou direita. O truque é ficar parado, se concentrando em deixar a mão perto da pistola, e se mover apenas se alguns segundos tiverem passado e o inimigo estiver fora do campo de visão (ele aparece embaçado). Desta forma, quando o sino tocar você terá os poucos segundos restantes apenas para colocar a mão, já próxima, no gatilho, e apertar quando a mira passar por cima. Se você foi atraído pela temática faroeste de Bound in Blood, os duelos deveriam ser de longe a coisa mais épica e intrigante do jogo. Bem, não são. E o fato de que tenhamos sentido a necessidade de desprender parte da análise para explicar a tática de jogo é indicativo disso. Os duelos de Bound in Blood não parecem nada com duelos. Um mano-a-mano de verdade exigiria reflexos rápidos com o braço, bem diferente do que o jogador faz no controller, tentando controlar uma mão que está sempre fugindo do coldre da arma. Na hora do disparo, uma mira se move, novamente como se representasse o saque, e o jogador dispara no momento que ela passa pelo inimigo. É um ótimo toque, mas também prejudica o jogador, pois a trajetória sai aleatoriamente e, muitas vezes, não por onde se deseja. No fim das contas, os duelos são repetitivas e frustrantes partidas de sorte que, ainda por cima, não parecem nada com duelos. Por um lado positivo, como o arco da mira sempre passa de baixo pra cima, disparos nas “partes baixas” dos jogadores são comuns, e se Combat Arms nos ensinou algo é que isso sempre rende boas risadas.

Brincadeiras à parte, ao menos os checkpoints garantem que o jogador não precise voltar para outras porções das fases. O jogo salva automaticamente logo quando um duelo começa, o que torna tudo menos chato. Mas o sistema de autosaves comete também sua série de pecados. O jogo salva em dados momentos que, por vezes, são muito distantes entre si. Isso se torna um problema maior nas últimas fases, que são lotadas de objetivos a serem cumpridos. Um exemplo: uma das fases exige que o jogador cruze uma aldeia enquanto é alvejado por uma salva de disparos de canhão e de ataques inimigos, suba até um ponto mais alto do cenário e fale com um personagem. Quando testamos o jogo, um estouro pegou em cheio nosso personagem teve de voltar até o ponto inicial na aldeia, uns bons minutos atrás. Estas inconveniências ocorrem um bocado de vezes e te fazem sentir aliviado que a Techland possibilitou que jogadores salvem seu progresso a qualquer momento do jogo. A dificuldade do game em si não é lá tão exigente: embora impecáveis em precisão, os adversários não contam com uma AI meio falha. Inimigos abandonam barricadas sem razões aparentes e fazem um bom trabalho de se manterem em sua linha de fogo.

Bound in Blood conta com um componente multiplayer muito sólido. Até 12 jogadores podem competir em uma diversidade de modos, entre variantes em Team Deathmatch e mesmo uma espécie de assalto a banco. O modo online é baseado em classes: você pode escolher uma diversidade delas, que variam em velocidade, força e resistência. As partidas rendem algumas somas de dinheiro, que podem ser gastas para comprar novas classes ou melhorar as já existentes. As melhoras não são persistentes e valem apenas durante a partida. A grande sacada do multiplayer é que cada jogador recebe uma recompensa pela sua cabeça, que aumenta de valor conforme a sua habilidade e se estende para qualquer um dos modos. Isso faz com que jogadores espertos fiquem mais ligeiros e facilita um pouco a vida dos novatos, livres de serem massacrados já que há mais vantagens em se caçar aqueles cujas cabeças valem mais. O jogo não conta com um modo cooperativo, o que é uma infeliz falta. Afinal, por boa parte da aventura, os irmãos andam praticamente lado a lado.

Problemas à parte, Bound in Blood segue a tradição de Call of Juarez e realiza um competente trabalho visual. Não é a coisa mais bonita que você já viu na vida: movimentos robóticos e um trabalho mediano de textura (desligue a qualidade de Post-Processing e você verá) acabam assombrando o game. Mas um conjunto de efeitos faz do game um jogo bonito aos olhos. Os cenários são enormes e pontuados por uma boa variedade de construções e estruturas; os modelos dos inimigos são excelentes (embora altamente repetitivos) e o trabalho com luz e fumaça confere às paisagens um quê épico e cheio de vida. Há momentos de tirar o fôlego: os duelos são sempre muito bonitos, com um uso criativo de blur effect, e cenas como a viagem de canoa e uma cidade sob chuva são impressionantes. Mas garantimos, você vai se cansar de montanhas rochosas depois de um tempo de jogo. Os cenários abertos são um pouco repetitivos e monótonos: são sempre uma larga espécie de vale com um ou outro forte ou celeiro jogado por aí.

No quesito sonoro, Bound in Blood tem seus momentos. O som das armas é bem forte, trazendo uma sensação visceral da força dos disparos e a fumaça que se desprende dos canos fumegantes apenas ajudam a sensação. Explosões e outros efeitos sonoros também ajudam a criar um ambiente bem imersivo. E aí alguém fala. Sinceramente, o trabalho de dublagem deixa um pouco a desejar: os três irmão fazem um bom trabalho, assim como alguns dos antagonistas, mas, no geral, há uma boa porção de momentos em que os atores parecem deslocados de seus papéis, sem conseguirem dar o tom certo do drama ou do humor.

Aí esta Call of Juarez: Bound in Blood. Outro esforço da Techland em criar a experiência definitiva em games de faroeste que não exatamente chega a explorar seu potencial. É ainda assim, uma boa pedida para quem gosta do estilo e não se importa em jogar mais um FPS sem grandes inovações. A temática dos dois personagens está de volta, mas não soa tão relevante quanto a do primeiro game: é comum se sentir na pele do Ray enquanto se joga como Thomas e vice-versa, visto que a diferença mais sensível está justamente no que eles carregam. O gameplay se diferencia em alguns pontos, mas nunca se aprofunda nas novidades ou as integra melhor ao jogo. Novamente, potencial desperdiçado.

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